Por Franco Caldart Sartori | 17/07/2023 - 14:43
A apreciação de vinhos é um universo fascinante, com uma ampla variedade de estilos e sabores para agradar a todos os paladares. Quando se trata de classificar vinhos em relação ao seu teor de açúcar residual, as leis desempenham um papel importante na padronização e na comunicação dessas informações aos consumidores. Neste artigo, vamos explorar a diferença entre vinhos secos, meio-secos e doces, com base na Lei OIV (Organização Internacional da Vinha e do Vinho), amplamente utilizada na Europa e o MAPA (Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento) que regula a classificação dos vinhos no Brasil.
De acordo com a Lei OIV, os termos relacionados ao teor de açúcar são definidos da seguinte forma:
Seco: Um vinho é considerado seco quando contém no máximo 4 g/L de glicose e frutose. No entanto, se a acidez total for de pelo menos 2 g/L em relação à quantidade de glicose e frutose, o limite máximo de açúcar residual permitido é de 9 g/L. Em resumo, para um vinho ser classificado como seco, ele deve ter no máximo 4 g/L de açúcar, mas se a acidez total tiver ao menos 2 g/L de diferença, o limite aumenta para 9 g/L. Exemplo: Um vinho com 8 g/L de açúcar residual, meio-seco em nossa legislação, segundo a OIV, se este vinho conter pelo menos 6 g/L de acidez total (expressa em ácido tartárico), ele é considerado seco.
Meio-Seco: um vinho é classificado como meio-seco quando seu teor de açúcar é superior ao indicado para vinhos secos, mas não ultrapassa 12 g/l ou 18 g/l . Aqui possuímos o mesmo caso, porém a diferença entre açúcar/acidez não pode exceder 10 g/l.
Meio-Doce ou Mellow: um vinho é considerado meio-doce ou mellow quando contém mais açúcar do que os valores estabelecidos para o meio-seco, mas não ultrapassa 45 g/l.
Doce ou Suave: na Lei OIV, o termo "suave" não é especificamente mencionado. Em vez disso, a lei estabelece a categoria "sweet" (doce), que se aplica a vinhos com uma força de glicose e frutose de pelo menos 45 g/l.
Por outro lado, o MAPA utiliza termos semelhantes para classificar os vinhos em relação apenas ao teor de açúcar residual. De acordo com a legislação brasileira, temos as seguintes categorias:
Seco: os vinhos são considerados secos quando seu teor de açúcar é igual ou inferior a 4 g/l.
Demi-sec ou Meio-Seco: os vinhos são classificados como demi-sec ou meio-seco quando o teor de açúcar está acima de 4 g/l, mas não ultrapassa 25 g/l.
Suave ou Doce: os vinhos são categorizados como suave ou doce quando o teor de açúcar varia entre 25 g/l e 80 g/l.
Classificação de açúcar dos vinhos de acordo com a OIV.
Ao comparar as duas leis, podemos notar algumas diferenças na terminologia e nos limites de açúcar residual permitidos em cada categoria. A Lei OIV oferece uma faixa mais ampla para a classificação de vinhos secos e meio-secos, permitindo diferentes níveis de açúcar residual com base na relação entre o teor de açúcar e a acidez total. Por outro lado, o MAPA simplifica as categorias, dividindo os vinhos em seco, meio-seco e doce, com limites específicos de açúcar.
É importante ressaltar que, ao comprar vinhos, é sempre recomendado ler os rótulos e as informações fornecidas pelos produtores. Essas informações podem variar de acordo com as regiões produtoras e as práticas comerciais adotadas pelos produtores de vinho.
Em resumo, a classificação de vinhos em seco, meio-seco e doce é regulada por diferentes leis em todo o mundo. Enquanto a Lei OIV é amplamente adotada na Europa e muitas vezes serve de base para o mundo, a lei brasileira estabelece suas próprias definições para essas categorias. Embora as diferenças existam, ambas as legislações buscam fornecer informações claras aos consumidores sobre o teor de açúcar residual dos vinhos, ajudando-os a fazer escolhas informadas de acordo com suas preferências pessoais.
Créditos: Wine Folly.
A lei que rege a parte de espumantes é bem diferente. O MAPA, classifica os espumantes tendo como base a região de Champagne. Sendo assim:
Nature: Esta classificação indica um espumante extremamente seco, com um teor de açúcar residual igual ou inferior a 3 g/L. Essa categoria corresponde ao Pas dosè/Brut nature, que indica a ausência de açúcar residual (0 g/L) e é considerado o nível mais seco de um espumante. Esses espumantes têm um perfil altamente seco e são ideais para aqueles que preferem sabores mais nítidos e menos doces.
Extra-brut: Espumantes classificados como extra-brut contêm um teor de açúcar residual acima de 3 g/L, mas não excedem 8 g/L. Essa categoria é semelhante ao Extra brut Francês, que tem um teor de açúcar residual entre 0 e 6 g/L. A diferença de 2 g/L entre as duas classificações pode ser considerada insignificante na prática, pois ambas indicam um espumante muito seco, com uma doçura mínima perceptível.
Brut: Os espumantes brut possuem um teor de açúcar residual superior a 8 g/L, mas não ultrapassam 15 g/L. Essa classificação está de acordo com a definição de espumantes brut, que contêm entre 0 e 12 g/L de açúcar residual. Os espumantes brut são populares e amplamente consumidos, apresentando um equilíbrio entre a acidez refrescante e uma leve doçura residual.
Sec ou Seco: A categoria Sec ou Seco indica um teor de açúcar residual acima de 15 g/L, mas não excede 20 g/L. Essa classificação é semelhante ao Sec/Dry, que engloba espumantes com um teor de açúcar residual entre 17 e 32 g/L. Esses espumantes tendem a apresentar uma doçura mais perceptível em comparação aos brut, mas ainda mantêm um perfil geralmente seco.
Demi-sec, Meio-seco ou Meio-doce: A categoria Demi-sec, Meio-seco ou Meio-doce abrange espumantes com um teor de açúcar residual acima de 20 g/L, mas não excede 60 g/L. Essa faixa de doçura é mais perceptível e agradável aos paladares que preferem uma experiência mais suave e adocicada. Essa categoria corresponde ao Sec/Dry, que também engloba espumantes com uma faixa semelhante de açúcar residual.
Doce: A classificação Doce abrange espumantes com um teor de açúcar residual superior a 60 g/L. Esses espumantes têm um sabor doce pronunciado e são ideais para quem aprecia uma experiência de degustação mais rica e açucarada. Essa categoria inclui o Doux/Sweet, que indica um teor de açúcar residual acima de 50 g/L.
Podemos perceber um interessante fato que ocorrem com os níveis de açúcar do pas dosè, extra brut e brut franceses. Eles podem conter as mesmas quantidades de açúcar e ainda assim pertencerem a classificações diferentes. Tal qual para vinhos tranquilos, a acidez é muito relevante para a classificação dos produtos.
É importante observar que, embora as categorias de açúcar residual forneçam uma orientação geral sobre a doçura dos espumantes, outros fatores, como carbonatação e níveis de acidez, também podem influenciar a percepção do paladar. Portanto, é sempre recomendável ler as informações fornecidas nos rótulos dos espumantes para obter uma compreensão mais completa do seu perfil de sabor específico.
Créditos: OIV